3 de fev. de 2012

191) ÍNDIO QUER APITO E FUTEBOL


Quem tem mais de 50 certamente se lembrará da marchinha de carnaval composta pelos cariocas Haroldo Lobo e Milton de Oliveira “Índio quer Apito”. Isso é coisa lá do início dos anos 60. Para quem nunca ouviu falar da tal marchinha vai a seguir o seu refrão:

“Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito,
Se não der pau vai comer!”

Se naquela época índio já apitava como queria, imagine agora que tem o PT para lhe dar todo o apoio? Os cerca de 400 mil índios, menos de 0,3% da nossa população, estão com a corda toda. Seu naco de território, denominado Reservas Indígenas, que hoje já totaliza 12,5% de todo o Brasil, e que não para de crescer, bem demonstra o poderio da turma do tacape e do facão. Proporcionalmente, detêm, em terras, 42 vezes mais do que a sua participação no conjunto populacional brasileiro. Quer mais?

O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, afinado com o mentor dos mentores, Lula, já se encontra em plena atividade para arrancar do Sr. Jérôme Volcke, secretário-geral da FIFA, uma cota especial de ingressos para os nossos briosos nativos assistirem privilegiadamente os jogos da Copa de 2014. Nada contra o fato de nossos irmãos Bororós, Arawatés, Guaranis, Kaiapós, Tucunas e Waiãpis, entre outros, estarem presentes nos 12 novos maravilhosos estádios para verem a bolar rolar. Os direitos são iguais. O que me deixa preocupado, é que pessoas desprovidas de cotas, como eu, tenham que ver os jogos somente pela TV.

Até hoje é possível ouvir dos mais velhos, ainda, histórias incríveis que presenciaram em 1950 no Maracanã, no Pacaembu ou mesmo no Estádio do Independência lá na minha Belo Horizonte. Elas se tornaram testemunhas oculares de momentos históricos. Parentes vetustos me contam da emoção que foi assistir, no Independência, o 1 X 0 dos amadores americanos sobre os inventores do futebol association, os ingleses. Para quem aprecia o futebol, trata-se de espetáculo digno de ser presenciado ali nas arquibancadas pertinho dos jogadores...

Eu imaginava também poder viver igual momento em nosso País. Ou agora em 2014 ou – pelo menos para mim – nunca mais. Nova Copa no Brasil após a de 2014 só quando o mundo se refizer do cataclismo que os videntes fatalistas de plantão prevêem insistentemente.

Corro o risco de ficar de fora, lamentavelmente. Às cotas para os índios certamente seguirão outras para os sem-terra, também para os da turma do Fome-Zero, dos afrodescendentes, dos estudantes, do GLS, das grávidas, das senhoras com crianças no colo e outras tantas cotas sociais que vicejam em abundancia nesta nossa primavera petista. Haverá ainda reservas para os políticos, para os parentes de políticos, para os amigos de políticos, para os amigos dos amigos dos amigos dos políticos e autoridades várias.

A FIFA, dona da festa, fará todas as gracinhas com o nosso chapéu. Pagaremos, por tudo, muitas vezes mais do que as obras realmente vierem a custar. Nós, os sem-cotas, ficaremos de fora do grande espetáculo, mas poderemos nos ufanar com a eloqüência do Galvão Bueno quando estiver enaltecendo a maravilha dos nossos estádios, o primoroso sistema de mobilidade social recém-implantado, a educação dos motoristas de taxi, a limpeza de nossas ruas e calçadas, o primor da organização tupiniquim e, obviamente, a excelência do futebol-arte com que nossos fantásticos pupilos, por certo, brindarão o mundo.

Confesso, contudo, que não desistirei de conseguir comprar um ingresso para qualquer jogo. Entrarei em filas, usarei meu networking, falarei com os manda-chuvas que conheço, participarei de todos os concursos e sorteios que vierem a premiar com ingressos dos jogos. Enfim, irei à luta...

E se nem isso me levar ao Itaquerão, ao Vivaldão, ao Castelão ou mesmo ao Mineirão, já sei o que fazer: Fico de calção, uso um bronzeador qualquer, faço uma escova progressiva mesmo com formol para ficar com o cabelo bem lisinho, arrumo um tacape e um apito e vou falar com o Aldo Rebelo, ou com o Lula se ele já tiver voltado à ativa, porque:

Índio quer ingresso
Se não der pau vai comer...

Edson Pinto
Fevereiro’ 2012

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Os problemas da Nação são tantos e tão variados que não dá para ficar só ligado em temas cruciais como: a confirmação ou não dos poderes do CNJ; a queda de mais um ministro; o dólar que continua caindo; a doação, pelo Kassab, de terreno para a ONG do Instituto Lula bem no meio da Cracolândia e o significado que há por trás disso; os efeitos da crise econômica europeia neste lado do Atlântico e coisas do gênero.

Nesta semana, tendo lido algumas notícias sobre a organização da nossa Copa de 2014 resolvi refletir sobre a real possibilidade de este cidadão comum, desprovido do benéfico de uma cota social, conseguir um único ingresso para os jogos da Copa.

Para saberem melhor do que falo, leiam ÍNDIO QUER APITO E FUTEBOL.

Abraço a todos!

Edson Pinto