1 de nov. de 2008

53) O POMBO-PAPO-DE-VENTO, AS GALINHAS E AS UVAS

O pombo-papo-de-vento, de peito inflado como um balão de festas, cheio de soberba e vaidade toma assento no ponto mais alto do aviário. A princípio, as galinhas não se deram pelo intruso, até porque, ali, naquele mesmo poleiro, outrora, muitas outras aves, incluindo pavões majestosos, fizeram pousadas curtas, médias e longas.

Ninguém se importou com ele até o momento em que quis mostrar não ser um pombo qualquer, mas sim, um legítimo, cosmético e ornamental “papo-de-vento”, o mais nobre da Ordem...

Desdenhou a vara suja, repouso perpétuo das galinhas, cuspiu o milho que lhes fartava, redecorou a própria gaiola, sem portas, e pediu uvas. Só uvas maduras, brilhantes, dúlcidas; quanto mais, melhor...

“Se você deixar de existir não ficarei chateado”, disse ele ao tratador que lhes jogava o sagrado milho do dia-a-dia. “Cansei”, expressava com tédio, a todo o momento, para deixar bem claro os tipos especiais de hábitos que queria cultivar.

“Que falta de criatividade botar sempre os mesmos ovos branquinhos e elípticos”. Já não lhe bastava ter em conta apenas os ovos que remanesciam em estoque nas entranhas das galinhas. Queria coisas novas que não fossem só eles e queria, sobretudo, mais cacarejos, custasse o que custasse.

O tempo fluiu rápido e com ele tudo o mais.

__ Vou partir! Não me agradam as uvas... Estão verdes!


Edson Pinto
Nov'08

Nenhum comentário: