24 de nov. de 2008

59) O TEMA DA VITÓRIA E ALGUMAS LIÇÕES BÁSICAS (nov'08)

 O resultado do exame de imunofenotipagem trouxe a conclusão: “O clone da célula anômala foi extirpado”. Isto pode não dizer nada para quem – graças ao bom Deus – desfruta de saúde e que por isso deve, ou pelo menos deveria, gozar com intensa alegria a plenitude do maior dos dons que aos humanos deram os céus: a vida.

Mas, para nós, a tradução pedestre dessa frase cientifica revelada no exame soa como o “Tema da Vitória”, aquele mesmo que embalava cada conquista do nosso Ayrton Senna, o inesquecível herói das pistas, e assim nos colocava embebidos de contentamento no ponto mais alto do pódio da existência terrena.

Há seis meses, fomos surpreendidos com diferente resultado do mesmo exame que, infelizmente, conjugado com outros de idêntico rigor científico, indicavam à Jane, minha esposa, estar acometida por um severo mal em seu organismo. Se não atacado de imediato e com os melhores recursos da farmacologia moderna, corria-se o risco de vê-la com a saúde agravada até limites e conseqüências que só o Supremo poderia determinar quais seriam e de que forma.

Vencemos! O resultado mencionado nas primeiras linhas deste texto tem o valor de um certificado de sua plena e boa saúde.

Talvez, não por acaso, a palmeira de nosso jardim floriu nesses últimos dias com inusitada exuberância como se fosse para saudar a vitória da Jane no que se apresentou para nós como um dos períodos mais tensos já enfrentados na vida a dois. Mesmo que apenas poucos amigos saibam disso, enfrentar uma doença é – quer queira ou não – um ato de valentia e superação que deve ser enfrentado com persistência dia-a-dia e com serenidade.

Sem que tenhamos a intenção de propor um modelo, pois cada caso é um caso, cada pessoa e suas circunstâncias determinam condutas e visões diferentes quanto ao desafio que tem pela frente, ousamos transformar nossa experiência em um guia com algumas lições básicas para aqueles que, como foi o nosso caso, vierem a enfrentar desafios assemelhados:

Primeira: Nunca se apavore com a dimensão que o problema a princípio pareça ter, nem subestime a sua própria capacidade de superá-lo. Há de se confiar em que os recursos da medicina atingiram alto grau de eficácia e, portanto, que vale muito a pena neles confiar. A esperança, necessariamente, pavimenta qualquer desejo forte para a vitória. O ser humano sem esperança assemelha-se a um barco sem o mar; a um pássaro sem asas; a uma atmosfera sem oxigênio. Esperança é, portanto, pré-requisito para o bom embate.

Segunda: Embora a realidade do sistema de saúde no país ainda deixe muito a desejar - por incrível que pareça – mostra que temos recursos e um arcabouço legal a garantir o acesso de todos os brasileiros aos melhores procedimentos médicos necessários para o sucesso de um tratamento. Além disso, o necessário e incontornável franco embate com a doença tem o dom de nos iluminar caminhos antes impensados e de nos levar a soluções a priori tomadas como impossíveis.

Terceira: Se o seu Plano de Saúde apresenta dificuldades para a cobertura de grandes procedimentos médicos, lembrem-se de que é na porta da Justiça que se deve bater. A urgência e os altíssimos custos de tratamentos modernos com muita certeza facilitam a obtenção de uma liminar em que o Juiz determina a quem de responsabilidade o imediato cumprimento de suas obrigações. Se ficar quieto nada acontece. Agir com base legal supera as inúmeras barreiras que a burocracia – em geral – demonstra no trato dos direitos da cidadania.

Quarta: Você se surpreenderá como os amigos verdadeiros serão solidários e farão por você mais do que poderia vagamente imaginar. Muito além de apoio material, surgirão, como que por encanto, a maior das manifestações de amizade que se pode conceber: A solidariedade. Cada amigo, em função de sua disponibilidade e sensibilidades, o apoiará ora com visitas, ora com telefonemas e mesmo orações. É como se essas forças superiores nos mostrassem o poder da fé que não se explica pelos meios clássicos da razão, mas que existe como força metafísica. Outros, contudo, passarão bem ao largo como se ainda estivessem na Idade Média e que a Peste Negra que assolou meio mundo fosse o mal de que você padece. Quer momento mais interessante para separar o joio do trigo?

Quinta: Passada a tempestade e agora já em mar calmo é hora de refazer o estilo de navegação que vinha adotando em sua vida. Menos estresse; mais foco nas coisas essenciais; menos importância para as coisas miúdas que fazem do dia-a-dia um torvelinho sem fim; mais valor às amizades verdadeiras; mais amor a Deus e à natureza por Ele personificada; mais alegria com cada dia, cada noite e com cada pessoa que nos rodeia...

E se um dia, por essas coisas incompreensíveis do destino, Ele te colocar à prova, lembre-se de que a palmeira de sua vida pode voltar a florir como floresce, agora, a do nosso jardim...


Edson Pinto
24/11/08

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