28 de set. de 2009

99) DESTINO MANIFESTO


No século XIX, a nascente república dos Estados Unidos da América imbuiu-se de uma ideologia que muito apropriadamente batizaram-na de “Destino Manifesto”. Por detrás daquele sistema de ideias, crenças e de valores patrióticos, germinava a forte decisão - de fato implementada - de tornar-se uma grande nação em termos de território e, a partir dali, assumir o papel de protagonista dos novos tempos que viriam. Conquistaram, do México, o território do Texas em 1836 e se não bastasse, depois de sangrenta guerra entre 1846 e 1848, também mais da metade do território remanescente do seu vizinho sulista. A América tornou-se, então, e como todos nós bem sabemos, o grande país que hoje é.

Faz todo o sentido buscar na Natureza uma possível explicação para este e para todos os atos que justificam uma posição de superioridade, tal qual imaginaram os americanos em sua famosa ideologia. A palavra “manifesto”, enquanto adjetivo, quer dizer que algo é patente, flagrante, notório, indiscutível, evidente. Um animal de grande porte, livre na natureza, se impõe pelo seu físico avantajado o que implica em ser mais forte e, portanto, dominador. Não é por outra razão que o tema olímpico, por excelência, nos ensina: citius, altius, fortius, ou seja: mais rápido, mais alto, mais forte.

Na espécie humana também não é muito diferente: Em estado bruto, o mais rápido, mais alto e mais forte se impõe no esporte ou mesmo numa peleja fisica. Ser mais rápido, coloca-nos à frente. Mais alto, nos dá visão privilegiada do ambiente e mais forte, nem precisa explicar... Adicione-se a isso, também, ser mais inteligente, mais ambicioso, mais estrategista, mais equilibrado, mais arrojado e tantas outras predicações que bem dosadas e bem combinadas tornam alguém, ou mesmo uma nação, vencedores. Só devido a patologias de diversas ordens, um individuo grande, mas lento e fraco, ficará por baixo e além disso ganhará facilmente a alcunha de “grandão bobo”, pois nem as características especiais que a natureza lhe deu são utilizadas a seu favor. Então, fica aqui uma pergunta interessante: Tendo você nascido rápido, alto e forte não seria mais desejável dominar do que ser dominado?

Com as nações não deve ser muito diferente. Olhemos para o Brasil! Temos muito território, grande população, infindos recursos naturais, sol em abundância, muitas inteligências e muita vontade de também protagonizar papel importante neste mundo. Tipicamente, um “Destino Manifesto” que, se nunca assumido de forma aberta, pelo menos parece fazer parte de nosso código genético. Aí fica o grande dilema a nos atormentar a cada instante: Somos, ainda, um país pobre e injusto. Temos riquezas, mas distribuimo-las muito mal. Temos um Estado perdulário, uma classe política não confiável e certa irresponsabilidade quanto ao nosso próprio destino. Como podemos nos atrever a almejar uma posição de destaque no mundo? Pleiteamos fazer parte permanente do Conselho de Segurança da ONU junto com somente 5 outras poderosas nacões. Queremos indicar o presidente do BID, ter um prêmio Nobel, liderar o G-20, comandar a OMC, promover a Copa do Mundo, sediar uma Olimpíadas e ao mesmo tempo titubeamos ao tomar posições políticas assertivas como nos casos de flagrantes “democraticídios” que ocorrem a todo momento, especialmente em nossa América Latina.

Apoiamos o Chaves na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, o garanhão do Lugo no Paraguai e até abrimos os braços para os desvairados Ahmadinejad e Muammar Kadafi. Queremos salvar a pele do assassino Cesare Batistti, tal qual já havíamos feito com Ronald Biggs. Queremos ficar bem com todo o mundo, mas, infelizmente, isso é – por razões óbvias – impossível. Já está na hora de assumirmos um papel mais claro sobre o que queremos fazer para melhorar o mundo, se é que entendemos que temos condições de contribuir com algo. Temos que abandonar a ilusão da aprovação unânime e saber que há sempre um preço a se pagar para sermos importantes. Até os grandes animais, mesmo vencendo, podem sair fortemente arranhados. Lembremo-nos de que “toda unanimidade é burra”, como nos deixou Nelson Rodrigues.

No episódio de Honduras, o Brasil, penso, está novamente agindo de forma complicada, desnecessariamente. Claro que não dá para aceitar que a democracia seja vilipendiada impunemente como fizeram os golpistas que depuseram, sem respaldo constitucional adequado, o também pouco democrático presidente Manuel Zelaya. O doidão de chapéu de boiadeiro tentou, via brechas na Constitução de seu país, mobilizar o povo hondurenho para um plebiscito que poderia levá-lo, aos moldes chavistas, a um segundo mandato, quem sabe até a mais. Ao invés de, constitucionalmente, abortar-lhe a quimera, preferiram a via curta do prende-e-expulsa. A OEA, como de resto quase todos os países latinoamericanos sérios, os EUA e outros blocos políticos importantes, se manifestaram contra o governo de facto ali instalado.

Agora, contudo, o homem do chapelão está curtindo Bossa Nova na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, a espera do seu retorno triunfal ao poder. Mesmo estando o Brasil, de certo modo, tomando posição quanto à forma antidemocrática com a qual o homem foi destituído de seu cargo, há índicios fortes de que Hugo Chaves manipulou nossa ingenuidade colocando-nos no centro de uma questão intrincada de modo muitissimo inapropriado. Não dá para ver uma estratégia bem formulada por parte do Brasil para atuação neste caso. Estamos lá ao acaso e sem sabermos o que efetivamente fazer, e isto é uma pena.

Se o Brasil, tal qual a América, vislumbra também o seu “Destino Manifesto”, devemos, sim, estar preparados para coisas muito piores. No entanto, manipulados por outros e bonzinhos, para agradar a todos, só nos fará por merecer o epíteto de Grandão Bobo. Isso dói...

Edson Pinto
Setembro’2009

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

Caros amigos:

Viramos a semana com um tema ainda em plena ebulição: O Brasil acomodou Manuel Zelaya em sua embaixada na capital de Honduras, Tegucigalpa, e até o momento em que escrevo este e-mail continuamos sem saber como esse abacaxi político será descascado pela nossa diplomacia capitaneada pelo trio Lula, Amorim e Marco Aurélio Top Top. Como de praxe, nosso presidente também não sabia que o excêntrico chapeludo estava indo para lá.

O meu texto desta semana, DESTINO MANIFESTO, que vem na forma de um ensaio, trata desse tema ainda inconcluso. Pode ser lido diretamente no meu blog http://blog-do-edson-pinto.blogspot.com ou na versão Word anexada ao presente.

Quem sabe no dia 2, sexta-feira próxima, Lula já poderá dizer diretamente de Kopenhagen que “nunca na história deste país” um presidente conseguiu em uma mesma semana ganhar a sede das Olimpíadas e fazer a presidência de outra nação, demonstrando, assim, que fazer o próximo presidente do Brasil será para ele mais uma marolinha a ser tirada de letra?

À caminho da Dinamarca, só para despistar, Lula, ao lado de Dona Marisa Letícia, já disse que estão indo apenas para saborear, na origem, o delicioso chocolate que, segundo ele, terá inspirado o nome da bela capital daquele país irmão. Ou, como filosoficamente questionou o próprio Lula, não teria sido o contrário?

Uma boa semana a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De:Manuel Jorge [manujorge@terra.com.br]

Meu querido Pensador;

Quaisquer que sejam os fragmentos das informações do Poder, a verdade sempre vem à tona. Afinal o exército de Honduras, apenas quis restabelecer a ordem e impor a Lei, contra um nefasto que condenado pela Justiça, ensaiava perpetuar-se no poder, igual ao truculento Chaves.

Deve ser incômodo ter um convidado desse nível na Embaixada Brasileira. O tiro saiu pela culatra.

Abraços

manu