22 de mar. de 2012

197) DOENÇA BRASILEIRA

Tomas Friedman, colunista e editor do The New York Times e que também tem seus artigos publicados no O Estado de São Paulo, analisou o recente estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que correlacionou o desempenho de estudantes no chamado PISA (Programa de Avaliação Internacional de Alunos), feito a cada dois anos, com a participação dos recursos naturais no PIB de cada um dos 65 países analisados.

Se você pensou que quanto menos benesses recebidas da natureza maior é o nível educacional de um povo, acertou. É isto mesmo! Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan, entre poucos outros países de escassas riquezas naturais, têm os seus estudantes entre os de avaliação mais elevada. Desnecessário dizer que os jovens do Brasil, país de riquezas naturais gigantescas, estão na rabeira da lista ao lado dos pupilos de países ricos em petróleo como Arábia Saudita, Kuwait, Omã e Argélia, mas fracos em educação. Uma explicação simplista para isso poderia ser a de que quanto mais dura a vida, mais as pessoas se esforçam para enfrentá-la. O contrário, quanto mais generosa a natureza, menos as pessoas se esforçam. Será?

O próprio Friedman vai buscar na História um fato econômico da maior relevância e que explica, a partir de pressupostos do âmbito das ciências econômicas, parte importante do problema, mas, não tudo: Recordou o período em que a Holanda, na década de 60, fez importantes descobertas de gás em seu exíguo território. A enorme exportação dessa matéria-prima gerou divisas abundantes ao país e com isto sua moeda, o Florim da época, valorizou-se exageradamente. A Indústria nacional tornou-se, pela desvantagem cambial, incapaz de concorrer no mercado externo e as importações cresceram de forma desmedida. Deu-se a isso o nome de “Doença Holandesa”. Felizmente, o reino dos Orange-Nassau sempre primou pela qualidade educacional de seu povo e este, sabiamente, conseguiu vencer a doença.

No Brasil, ao que tudo indica, nos encontramos em uma situação muito peculiar e preocupante: Há uma nítida percepção de que já contraímos a doença holandesa, mas com uma cepa de vírus um tanto diversa. Temos o mesmo problema de riqueza abundante baseada em matérias-prima e produtos básicos, como teve a Holanda, porém associado a um fraco nível educacional da população. Por isso, melhor rebatizá-la de Doença Brasileira. Vejamos:

As nossas exportações de produtos naturais e primários de baixo valor agregado são tão exuberantes, principalmente mercê do crescimento da China, que tem havido elevado influxo de capitais estrangeiros, quase sempre para tirar proveito das nossas taxas de juros, as maiores do mundo. O Real valorizou-se como nunca e a nossa Indústria que poderia agregar “mais valia” aos nossos produtos, está à míngua. O governo enfrenta a inusitada situação de ficar inventando meios para impedir a entrada de moedas estrangeira, quando - não faz muito tempo - o esforço sempre fora em sentido contrário.

Nossos ensinos público e privado só têm produzido alunos que ficam na rabeira do PISA, mas os brasileiros, agora momentaneamente abastados pela valorização do Real, preferem sair aos borbotões fazendo compras sem limites mundo afora. Comprar, virou o verbo mais conjugado pelos novos ricos do mundo, os brasileiros. Não há um único país da Europa, ora combalida, ou mesmo os EUA que já não estejam de olho ou mesmo implementando ações para atrair a grana dos vorazes brasileiros.

Certo que os produtos no Brasil estão muito caros quando comparados com os do exterior. Isto, além de muitas outras mazelas da nossa economia, é também reflexo da nossa própria versão da doença holandesa. Vai passar, por bem ou por mal, mas vais passar. Os brasileiros estão comprando somente por que algo é mais barato nos EUA ou na Europa, mesmo sem precisar do que se compra. Tenho visto pessoas que viajam com freqüência trazem vários pares de tênis, por exemplo, mas que vão para o fundo do armário.

Precisariam deles para ser felizes? Quem sabe não seria mais prudente investir parte dessa gastança na formação educacional dos filhos e prepará-los para os tempos difíceis que poderão vir no futuro? Não deem dólares aos americanos em troca das quinquilharias que são manufaturados, sob encomenda, à mão-de-obra escrava de pobres países orientais. Façam melhor! Matriculem seus filhos em suas boas Universidades comprando-lhes, aí sim, o conhecimento que ao contrário dos efêmeros pares de tênis, ficam como o patrimônio mais valioso para os jovens, ou seja, a educação.

O que adianta terem os nossos filhos visitado inúmeras vezes a Disney, comprado os mais famosos tênis e roupas, se na prova de avaliação internacional de conhecimento, o PISA, eles ficam nos últimos lugares? Precisamos de jovens bem preparados para que as próximas gerações desfrutem de um país verdadeiramente rico, com economia sólida e maior justiça social.

O teólogo Frei Beto em recente artigo publicado no O Estado de São Paulo faz semelhante critica ao consumismo quando cita o grande filósofo grego, Sócrates. Este gostava de passear pelo comércio da sua Atenas olhando tudo. Ao ser abordado pelos vendedores sempre respondia que não tinha interesse em comprar nada, apenas observava a quantidade de coisas que existia e que das quais ele não precisava para ser feliz.



Edson Pinto

Março’2012

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

A economia brasileira atravessa um período de relativa bonança. O fantasma da inflação galopante, felizmente, ficou para trás e o País, agora mais previsível, tornou-se o queridinho dos investidores internacionais.

Mas nem tudo é cor-de-rosa para o futuro próximo que já se vislumbra no horizonte.

Há indícios de que a nossa saúde econômica está sendo acometida de uma doença muito séria...

Escrevi um pequeno ensaio com o título de DOENÇA BRASILEIRA no qual especulo sobre as causas desse mal que têm o poder de nos frustrar a superação do eterno chavão de “país do futuro”.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto